Você já ouviu falar sobre a roda dos rejeitados? Parte de uma triste história que milhares de crianças e mulheres

A Roda de Expostos ou Roda dos Enjeitados foi uma das instituições brasileiras de mais longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história. Criada em Portugal para acolher crianças “abandonadas” em todas as vilas e cidades do reino, foi transferida para o Brasil no Período Colonial, perpassou e multiplicou-se no Período Imperial e conseguiu manter-se durante o Período Republicano até ser extinta definitivamente somente na década de 1950.

O nome Roda dos Expostos provém do dispositivo onde se colocavam os bebês que se queriam abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era instalado no muro ou na janela da instituição. No lado de fora do muro, o expositor depositava a criança que enjeitava na abertura externa do dispositivo e ao girar a roda a criança já estava do lado interno da instituição. Para avisar a vigilante ou rodeira que a criança acabava de ser abandonada, puxava-se uma cordinha com uma sineta e retirava-se do local rapidamente, garantindo assim o anonimato do expositor.

Depois de “abandonadas” na Roda dos Expostos, todas crianças eram registradas no livro de “Matrícula dos Expostos” e, posteriormente, no livro de “Vencimentos de Amas” quando a criança era encaminhada aos cuidados da “Ama de Leite” ou “Ama Seca”, mulheres empregadas para alimentar e criar as crianças recebidas na roda até que fossem encaminhadas à adoção, ao trabalho ou ao acolhimento institucional, ao Estado caberia a administração dos negócios públicos, enquanto a assistência pública era direcionada às Confrarias ou Associações Religiosas ou Leigas.

A primeira Roda dos Expostos do Brasil foi instituída em 1734 na Santa Casa de Misericórdia da Bahia, em Salvador. Fundada em 1549, a Santa Casa da Bahia iniciou os trabalhos de assistência em uma construção rustica de taipa de pilão e cobertura de palha, situada onde atualmente está localizado o Museu da Misericórdia. Nesse período, a Salvador possuía mais de 100 mil habitantes e era grande o número de crianças “abandonadas” nas vias públicas, na porta do hospital da Misericórdia, e algumas até encontradas devoradas pelos cães e porcos nas ruas da cidade.

A segunda Roda dos Expostos brasileira foi instituída em 1738 na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Fundada em meados do século XVI, a Santa Casa do Rio de Janeiro começou a prestar assistência em um abrigo precário coberto de sapé na orla marítima do Morro do Castelo, dando origem possivelmente ao primeiro hospital da cidade. Com o expressivo crescimento populacional por se tornar o principal porto de exportação do ouro de Minas Gerais, o que transformou o Rio de Janeiro na capital do Brasil em 1763, também era grande o número de crianças abandonas nas ruas da cidade e na Ladeira da Misericórdia que acessava o antigo hospital de caridade.

A terceira Roda dos Expostos do Brasil foi instituída em 1789 na extinta Santa Casa de Misericórdia de Olinda que funcionava anexa à Igreja da Misericórdia localizada no alto do morro de onde se avistava o vilarejo de Recife. Com o desenvolvimento portuário da cidade de Recife, em 1860 a Santa Casa de Olinda foi incorporada à Santa Casa de Misericórdia de Recife que passou a abrigar a Roda dos Expostos.

A quarta Roda dos Expostos do Brasil foi instituída mais tardiamente na cidade de São Paulo já no Período Imperial, em 1825 quando a vila quinhentista já ultrapassava os 25 mil habitantes.

Segundo registros do Museu da Santa Casa de São Paulo criado em 2011, que preserva a Memória e um Acerco Histórico valioso da Santa Casa de São Paulo, a Roda dos Expostos funcionou até dezembro de 1950, quando a última criança foi recebida e registrada com o número de 4.580.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *